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História com sentido - Abril de 2010

História com sentido - Abril de 2010

 A CANETA QUE NÃO SABIA ESCREVER

     Todos os outros lhe chamavam «a invulgar», porque não sabia escrever e talvez também devido à sua maneira de ser um tanto peculiar, porque não se gabava de nada e, claro, porque costumava ter outra forma de ver as coisas. O marcador vermelho falava sempre de como era maravilhoso o seu traço brilhante, que podia facilmente ser visto de longe. Os marcadores, amarelo e verde-fluorescente gabavam-se da sua condição: «Apenas nos usam para destacar o mais importante.» Eram uns odiosos presumidos! A despretensiosa Bic azul orgulhava-se de ser indispensável; já a sua prima, a séria Mont Blanc, gostava de manter uma certa distância em relação aos demais, como se pertencesse à aristocracia, e tudo porque, como costumava dizer: «A mim só me usam para assinar os documentos importantes.» A verdade é que era elegante, mas demasiado distinta para ganhar a simpatia dos outros.

    O lápis era um bom tipo, sempre disposto a tudo, mas o seu passatempo favorito era discutir com a borracha: «Não sei por que razão te metes naquilo que escrevo, porque tens de apagar aquilo que faço»; e ela, que era igual, entrava na discussão: «Pois eu apenas apago aquilo que tu fazes mal, aprende a escrever sem erros, sabichão!» Estavam sempre nisto, mas todos sabiam que, no fundo, gostavam muito um do outro.

    Um belo dia, abriram o estojo e o dono escolheu «a invulgar». «Céus! Chegou o momento!», pensou resignada a caneta. Efectivamente, quando o dono começou a escrever, exclamou de imediato: «Olha, mais uma vez calhou-me esta caneta com manhas! Estou farto!» Alguém que se encontrava a seu lado disse: «Dá-ma cá!», e tentou escrever com ela. Não tentou mais de cinco segundos: «Grande caneta! Se não escreve, vou deitá-la fora.»

    A caneta ficou triste. Já sabia, tinha chegado a sua hora. Contudo, antes que a atirassem para o temido cesto do lixo, a filha do dono exclamou: «Papá, dá-ma, gosto dela!»

    O pai entregou-lha, sorrindo. Para que a quereria se não funcionava? Pensou que era coisa de crianças e que talvez tivesse gostado da sua forma. Um pouco depois, a menina gritou: «Olha, que bom, vejam!»

    A jovem trazia na mão um pedaço de cartolina azul-marinho e mostrou-o ao pai: «Olha, papá, olha que bonito!» «É o máximo! Olha, David, como fica bonito!» O pai passou o pedaço de cartolina ao amigo e este ficou impressionado: «Caramba! É uma caneta branca! Como fica bem a tinta branca sobre um papel escuro. Nunca tinha visto uma caneta assim.» «Olha,— disse Rui, podíamos utilizá-la para escrever as dedicatórias nos cartões de Natal. Este ano, comprámos cartões escuros e ficará espectacular se escrevermos e assinarmos com esta caneta.» «Boa ideia! Vamos fazer isso!», respondeu o amigo.

    «Bom,— pensou a caneta, sou uma caneta branca! Claro, por isso parecia que não escrevia! A verdade é que sou muito especial e além disso vou escrever as felicitações de Natal. Nem posso acreditar!»

    O dono devolveu-a cuidadosamente para dentro do estojo, mas desta vez preocupou-se em colocá-la num lugar muito especial. Retirou a régua do seu sítio habitual para que a fantástica caneta branca tivesse um lugar privilegiado. É claro que a velha régua, tão rigorosa e quadriculada como sempre, não parava de dizer: «Esse é o meu lugar! Não pode ser, esse é o lugar das réguas, sempre foi assim!» A «invulgar» estava feliz; contou o que descobrira aos seus companheiros, e todos eles se alegraram. Todos menos os marcadores fluorescentes, claro, que, quando a caneta contou o caso das felicitações natalícias, ficaram verdes de inveja!

 

    Talvez o próprio leitor tenha sido uma caneta branca que muitos não souberam valorizar e repare como hoje é um aluno de êxito.

    Na verdade, era apenas «invulgar» entre os outros alunos, porque era capaz de se envolver sem medo em tarefas complicadas, apresentar outras soluções, ou porque não engolia sapos facilmente.

    Mas algum medíocre tomou isso como insolência ou inadaptação. Descubra as suas próprias canetas brancas e encontrará um grupo de elite que irá reforçar a equipa/turma que lhe dará um futuro melhor. Não ponha de parte os «invulgares» apenas pela sua maneira de ser, analise a diferença. Para o diferenciar dos restantes, aceite algumas das suas sugestões e coloque-o na equipa. Acaba de encontrar aquele que poderá tornar-se o seu melhor amigo. Só é necessário que saiba acolhê-lo como ele merece.

 

 

Adaptado de “Ir ou não ir” de Francisco Muro

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Ano Letivo 2009/2010/2011/2012/2013/2014/2015 - Agrupamento de Escolas Abel Salazar